sábado, 14 de julho de 2012

Memórias da Breia: Portugal e os portugueses por Eça de Queirós

Memórias da Breia: Portugal e os portugueses por Eça de Queirós: Estou a ler as Farpas (escritas a partir de 1871 por Eça e Ramalho Ortigão) e não resisto a deixar aqui algumas considerações que não podem ...

Memórias da Breia: Estou a ler um livro

Memórias da Breia: Estou a ler um livro: Estou a ler um livro com o título "Roteiro de leitura da Bíblia". O primeiro capítulo tem um título fantástico: A Bíblia nasceu da vida ......

Que POLIS?

a chave está no "nós solidário" (frei Fernando Ventura, no seu livro de co-autoria, "Do eu solitário ao nós solidário") que cada ser humano pensante deve ser, numa ecologia palanetária e humanitária.

masi uma excelente reflexão... Que "POLIS" queremos construir...?

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sexta-feira, 13 de julho de 2012

A descredibilização da política

Está bem dito!
subscrevo!

fonte: http://www.muxicongo.blogspot.pt/

A descredibilização da política


“Já tenho idade suficiente para não ter tantas ilusões e não espero muito dos políticos”

José Miguel Júdice

A descredibilização da política está aí instalada e pela voz sonante dos que se serviram da política para evoluírem, tão só, financeiramente. Quando aqueles que se “masturbaram” através da política, e nos deixaram neste estado de coisas, vêm agora a terreiro libertar “cobras e lagartos” a propósito de conjunturas, imbróglios e cozinhados neoliberais, estamos seriamente acometidos pela conflitualidade dicotómica entre o Estado de Natureza – discernível através da razão – e o Estado de Guerra, sendo que o primeiro, segundo John Locke, leva-nos a um estado de perfeita liberdade e de igualdade “por nos encontrarmos inicialmente num estado de abundância, e não de escassez, e com um pressuposto implícito de que, muitas vezes, as pessoas estarão directamente motivadas para obedecer à lei moral", enquanto o segundo, consequência negativa do primeiro, para os já por nós denominados “forjadores da política”, assenta no direito de punir, ou seja, “o direito de fazer pagar pela sua transgressão aquele que transpõe os limites da Lei da Natureza”. Mas, por incrível que pareça, a transgressão moral é sempre atribuída aos mais fracos, aqueles que alimentam as máquinas pesadas do Estado, astuto na imunidade dos que detêm o próprio poder. Como escreveria Rui Tavares, mesmo sabendo nós que as “máquinas eleitorais” – forma de branquear dependências – se prestam ao engano e à mentira, “a democracia, mesmo para quem acredita nela, não resolve os problemas todos. O que a democracia faz é criar uma maneira que permite resolver problemas. Não é uma solução para tudo, mas uma forma de encontrar soluções em conjunto”. Daí, a nossa apreensiva cautela no que toca a defensores de indexações circunstanciais (nunca por culpa deles), esguios aos princípios de justiça – premeditadamente situados entre a carência e a abundância – defendidos por John Rawls: “Cada pessoa terá direito igual ao mais vasto sistema total de liberdades básicas iguais compatível com o sistema similar de liberdade para todos”. Antes pelo contrário, assiste-se ao proliferar de uma paupérrima dialéctica, porque assente na má formação (ética e) de carácter, milenarmente “moldado” pelas três disposições aristotélicas, porque por ele pensadas: “duas são perversas, a que é por excesso e a que é por defeito, e uma é a da excelência, a qual corresponde à posição intermédia”. Nos tempos que correm, infelizmente, é essa disposição intermédia (excelência) asfixiada pelas disposições do excesso e do defeito, forçando a negação da máxima, também ela aristotélica, de que “o Humano enquanto prático é princípio da acção”. Deveria ser no agir que o mesmo (Humano) se pode cumprir na sua possibilidade extrema, como ser ético ou, tendo em conta as palavras do político cabo-verdiano Abraão Vicente, reconhecer a política como arte e não como ciência: “estou há pouquíssimo tempo na política activa mas posso garantir-vos algo: tal como escreveu Otto Von Bismarck a política não é uma ciência, como supõe a maioria dos senhores, mas uma arte”. E esse propósito ou “disposição” falta a muitos dos nossos políticos, porque eticamente mal formados.


Muitos dos “reformados” da política – muito novos na idade e principescamente remunerados – utilizam hoje o “palanque” da palavra, por forma a serem os moralizadores da sociedade, que outrora ajudaram a desmoronar-se. Defendem a necessidade da austeridade, mas sem mexer nos seus salários; o aumento da produtividade e abaixamento de salários – referencial propósito de um (multimilionário assalariado) conselheiro de Estado, o nominal António Borges –, como se as palavras vociferadas fossem, por si só, extensivas à própria produtividade; o choque estrutural no emprego, mas sempre acautelando as condições do mercado e do perfil de empregabilidade; a condescendência “patriótica” da privatização dos bens públicos, por forma a livrar-nos, segundo as suas iluminadas mentes, do peso do Estado; a mão pesada para os pais, alunos e escola, fazendo lembrar disciplinas de antanho: “os alunos devem cuidar da sua higiene pessoal e apresentar-se com vestuário adequado, em função da idade, dignidade do espaço e das actividades escolares”; leis de compromisso, mesmo que se ponham em causa a estabilidade de instituições públicas, no que concerne à quantidade e à qualidade (exemplo da Saúde); a luta contra a corrupção, mas na prática envolvem-se (com secretas – para Catalina Pestana, qual sucedâneo da PIDE – à mistura) em favores a empresas e amigos, levando a que Rui Tavares, no Público de 4 de Junho, preconizasse a seguinte estigmatização: “Em Portugal existe o «estado superficial». É uma espécie de babugem na qual fermentam criaturas sem conhecimento, mas com «conhecimentos», sem cultura política mas com cunhas metidas por políticos, com um percurso feito entre lojas maçónicas manhosas e carreiras nas juventudes partidárias”. Se assim acontece somos obrigados a concordar com John Stuart Mill quando, um dia, nos alertou para o facto de eventuais ameaças à democracia representativa, sendo que uma delas “é a possibilidade de que o sistema encoraje pessoas sem valor ou inaptas a apresentarem-se a eleições”. Infelizmente, e cada vez vai sendo mais frequente, razão tinha Platão quando vaticinara que “as pessoas mais bem equipadas para governar serem aquelas que menos o quererão fazer. Ou, inversamente, as características que mais provavelmente conduzem ao sucesso na política – bajulação, duplicidade, manipulação – são aquelas que menos desejaríamos ver nos nossos governantes”. Tal como ao tempo de Platão, permitam-nos questionar: Como fazer para nos protegermos de líderes indesejáveis que cheguem ao poder?

A descredibilização da política está aí instalada, não por culpa de quem vota, mas por culpa de quem, apesar de se saber incapaz, teima em procurar a “estabilidade financeira” do seu próprio bolso. Por isso, tal como José Miguel Júdice, também nós já vamos tendo idade suficiente para não termos tantas ilusões e não esperarmos muito dos políticos. Ficando-nos pela nossa insignificância – e quiçá, assumida “ignorância” (?) política –, mesmo quando presumimos que a democracia é uma forma de tornar conhecidos os interesses ou preferências individuais, terminaremos postulando o provérbio latino, por nos acharmos indiferenciados na sabedoria da bajulação, da duplicidade e da manipulação, tão em voga neste “Estado” de graças: Quae sunt Caesaris Caesari!